"Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da
Guiné Equatorial" teria sido financiado com uma quantia de R$ 5 milhões a
R$ 10 milhões doados pelo presidente do país africano, Teodoro Obiang Nguema,
que está no poder há 35 anos.
O governo da Guiné Equatorial negou nesta quinta-feira que tenha
patrocinado a Beija-Flor. Em nota, o ministro da Informação, Imprensa e Rádio,
Teobaldo Nchaso Matomba, afirmou que a iniciativa do patrocínio partiu de
“empresas brasileiras”. O governo não citou nomes, mas, na quarta-feira,
durante as comemorações pelo título na quadra da escola, o carnavalesco
Fran-Sérgio, integrante da comissão de carnaval da escola, citou Queiroz
Galvão e Odebrecht (empresas que são citadas no escândalo lava jato) e grupo ARG como patrocinadores do enredo, .
Segundo o governo, os ministérios da Informação, Imprensa e Rádio e da Cultura e Turismo forneceram materiais e informações sobre a arte e cultura do país. O contrato assinado entre a Beija-Flor e o ministério da Cultura e Turismo do país africano cita um aporte de R$ 10 milhões para a escola, mas não informa a origem do dinheiro.
Em nota a Odebrecht afirma que não patrocinou o desfile do Grêmio
Recreativo Escola de Samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro e esclarece
ainda que nunca realizou obras na Guiné Equatorial. A empresa chegou a manter
um pequeno escritório de representação no país africano, mas ele foi desativado
em 2014.
Consultada pela BBC Brasil antes do desfile, a Beija-Flor não confirmou
os valores recebidos e limitou-se a dizer, em nota, que recebeu "apoio
cultural e artístico do governo da Guiné Equatorial" e que "visando
divulgar a trajetória de seu povo, a Guiné Equatorial disponibilizou todo o
aparato histórico para que a comissão de Carnaval da agremiação pudesse
pesquisar e ter acesso a diversos aspectos da cultura local".
A GUINÉ EQUATORIAL
No país formado por cinco ilhas e um território no continente, não há
distinção entre governo e seu presidente: Teodoro Obiang Nguema está no poder
desde 1979 e pretende passar a coroa a seu filho Teodorin, vice-presidente.
Ex-colônia da Espanha, a Guiné Equatorial se tornou independente em 1968.
Foi então governada por Francisco Nguema, cujo governo opressor fez com
que milhares de pessoas buscassem refúgio em outros países africanos e também
na Europa. Em 1979, Nguema foi deposto em um golpe de estado violento realizado
por Mbasogo, seu sobrinho.
Riquíssimo em petróleo e gás, o país conta com um PIB estimado em 15
bilhões de dólares e é uma das maiores rendas per capita do continente
africano. Contudo, deixa a desejar quando o assunto é desenvolvimento humano. De
acordo a Organização das Nações Unidas (ONU), o país de apenas 800 mil
habitantes ocupa a 144ª colocação no ranking de desenvolvimento que
avalia 187 países.
As violações de direitos humanos são alvos constantes de denúncias de
entidades internacionais. Em relatório anual, a HRW criticou a
opressão da imprensa local e a repressão contra manifestações políticas
oposicionistas. Denunciou também a falta de independência do judiciário (cujo
líder é Mbasogo) e as condições desumanas das prisões do país.
O pequeno país do oeste africano começou a explorar suas riquezas
petrolíferas em 1995 e hoje é visto como vítima de um típico caso de
"maldição do petróleo" – ou paradoxo da abundância. Desde meados da década de 1990, a antiga colônia espanhola se tornou um
dos maiores produtores de petróleo na África Subsaariana e tinha, em 2004, a
economia em maior crescimento do mundo.
No entanto, apesar de o país liderar o ranking de prosperidade da
África, uma grande parcela de sua população permanece na pobreza. Segundo o
Banco de Desenvolvimento Africano, os lucros do petróleo e do gás levaram a
melhorias na infraestrutura básica nos últimos anos, mas não houve avanços
significativos nas condições de vida do povo guinéu-equatoriano.
O governo ampliou os gastos em obras públicas, mas a ONU alega que menos
da metade da população tem acesso à água potável e quase 10% das crianças
morrem antes de completar cinco anos. O país é criticado por diversas
organizações de direitos humanos, que alegam que os dois líderes
pós-independência estão entre os principais violadores de direitos na África.
Defesa
A escola de samba não ouviu as críticas calada. Em sua página oficial no Facebook,
a Beija-Flor citou a proximidade comercial e diplomática entre o Brasil e a
Guiné Equatorial e descreveu a relação dos países como "avançadas e
dinâmicas".
Repercussão
Diferentes veículos de imprensa internacionais repercutiram nesta manhã
a vitória da Beija-Flor de Nilópolis e sua possível ligação com a ditadura
africana, como o jornal americano The Wall Street Journal.
A BBC lembrou ainda outra polêmica carnavalesca. Em 2006,
informou o site de notícias, a escola de samba Vila Isabel foi igualmente
criticada por ter recebido investimentos para homenagear Hugo Chávez, então
presidente da Venezuela.
Fontes: BBC, O Globo e a Exame
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