Apesar do Exame Nacional do Ensino Médio ter mudado o perfil, agora mais interpretativo, mesmo assim, o massacre continua. E não há raciocínio, inteligência e conhecimento que consiga confrontar as 180 questões e mais a redação com êxito. Quem faz a prova só por que precisa deste registro para outras finalidades como FIES, SISUTEC, PRONATEC etc. não sente tanto na pele o massacre. Agora quem se dedica dia e noite, horas e horas, o ano todo para conseguir uma vaga nas universidades públicas ou bolsa integral paga pelo governo, a sensação é de frustração completa por não conseguir responder todas as questões em tempo hábil.
No segundo dia de prova o candidato mais
esperto começa logo pela redação. Construir um texto dissertativo para
convencer a banca de doutores que vai avaliar requer tempo, atenção, raciocínio
e tranqüilidade. Mas, o tempo está ali no quadro, correndo e, as 90 questões
ainda estão intactas para serem respondidas.
A prova de redação ainda é decisiva em um processo como este. Depois da redação o aluno se confronta com os
“bifes” de perguntas das questões da prova de Códigos de Linguagem associadas a textos longos e
muitas das vezes desnecessários e, para terminar o massacre tem a prova de matemática com
predominância de cálculo de área de todos os objetos, cálculo de tangente,
perguntas sobre lucro e porcentagem etc. A maioria das questões pedia que o
aluno soubesse lidar com conversão de unidades, de minutos para segundos, de
centímetros para metros, entre outras.
Haja
neurônios, controle emocional e tempo para terminar de ler uma questão e
responder no caso das questões de linguagem os textos precisavam ser lidos duas
ou três vezes por que o cérebro já saturado não conseguia mais captar a
informação. A saída de muitos candidatos foi deixar algumas questões em branco
e chutar outras.
Os candidatos
que optaram em chutar as questões terão outro problema que se chama TRI que é
uma regra cruel. Teoria de Resposta ao Item (TRI),
é o método escolhido pelo governo para avaliar o resultado do Enem. Trata-se de
um sistema capaz de analisar as questões que o estudante respondeu corretamente
e dar um peso específico para cada acerto. Na TRI a regra é clara: se o aluno chutou a resposta,
a nota diminui. Como eles sabem se o aluno acertou sem querer? Através de
estatísticas. Se ele errou muitas perguntas fáceis, a chance de ter acertado
uma difícil tentando adivinhar a alternativa certa é maior. Logo, pode ter
chutado.
O nível
das provas realmente melhorou em relação às anteriores. A prova teve um caráter
interdisciplinar. Nas questões de história e geografia, por exemplo, havia
perguntas baseadas em considerações que vêm da sociologia e da filosofia e isto
exigia uma reflexão crítica, uma capacidade de leitura e interpretação dos
estudantes, mas o número extenso de questões não dava esta possibilidade.
Não se
trata aqui de uma apologia a facilidade das provas. Os candidatos realmente precisam
ser avaliados afinal são alguns degraus que os separam da academia. O que
precisa ser reavaliado é como as questões são colocadas pra não deixar o
candidato cansado e exausto antes do fim das provas.
Em ambos
os dias, após a resolução da sexagésima questão, a dor de cabeça já é certa, a
paciência já morreu, o corpo começa a reclamar do desconforto. O desespero
começa a desequilibrar as emoções e não há inteligência que resista a toda esta
pressão. Penso que nem Albert Einstein com toda a sua loucura sobreviveria a
este massacre da mente.
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