Traumas e transtornos após assaltos são comuns e
podem ser evitados com técnicas preventivas. Diante do aumento da criminalidade
urbana, cada vez mais a atuação nesse quesito é exigida de profissionais da
área de psicologia.
Há 12 anos, a psicóloga Liane Pinto, especialista
em programação neurolinguística (PNL) e em experiência somática (SE), atende
vítimas no consultório, além de ser acionada por bancos, lojas e outras
instituições para dar apoio psicológico aos funcionários logo após a
ocorrência. Ela explica que o trauma é a desorganização e sobrecarga
neurofisiológica que se dá depois de um evento como um assalto. Quanto antes a
pessoa buscar ajuda especializada, menores serão as chances de os sintomas
tornarem-se crônicos.
Imediatamente após o assalto, a pessoa pode
apresentar o estado agudo de estresse, cujos sintomas são agitação com
hiperatividade, flashbacks, desorientação, estupor dissociativo, entre outros.
Segundo Liane Pinto, isso é normal, e depois de dois ou três dias, os sintomas
vão naturalmente diminuindo.
"Para diminuir a possibilidade de
desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o ideal é que
a pessoa consiga descarregar a fisiologia nas primeiras 24 horas",
recomenda. Ela relata que o estresse pós-traumático pode se expressar por meio
de flashbacks, onde imagens intrusas perturbam a vítima e ela começa a evitar
passar no lugar onde o trauma aconteceu ou em locais parecidos. Outros
sintomas, como insônia ou hipersonia, depressão ou ansiedade também podem estar
associados.
Dicas
para lidar com o trauma
A especialista enumera algumas atitudes que ajudam
a reduzir as consequências traumáticas, se praticadas nas primeiras 24 horas
após o assalto. Confira:
Calar ou falar sobre o assunto?
A especialista explica que cada pessoa se sentirá
melhor de uma forma. Há estudos que apontam que ficar falando muito sobre os
fatos pode piorar os sintomas do trauma, potencializando a sensação de
impotência e de insegurança. O ideal é observar se, ao contar, a pessoa vai
ficando mais aliviada ou se fica mais tensa. Mesmo que as pessoas insistam para
ouvir os detalhes, só vale continuar os relatos se isso der sensação de alívio.
Cada pessoa tem um perfil diferente.
Ressignificar a lembrança
Lembrar é importante para a estrutura da memória,
para a defesa natural. Algumas técnicas são indicadas para que a pessoa consiga
desorganizar menos o sistema nervoso. Primeiro, a pessoa deve observar o que
sente quando surge o "flashback mental". De zero a 10, quanto isso
incomoda? Ao concluir esse exercício, a pessoa fica mais aliviada, mais segura.
Focar no alívio
A pessoa está viva e pode ficar melhor lembrando-se
de um momento de alívio, que pode ser o momento em que o assaltante foi embora,
ou quando uma pessoa se aproximou para lhe dar até mesmo um copo d'água. É
natural que a partir de então a pessoa chore, trema ou tenha alguma outra
reação de descarga. Quando a pessoa chora, descarrega a tristeza, a angústia, e
isso faz parte da reorganização neurofisiológica. Aliando técnicas de
programação neurolinguística à experiência somática, a psicóloga enfatiza que é
importante observar o que acontece no corpo e buscar educar o paciente,
ajudando-o a, posteriormente, ressignificar o fato.
Completar a estratégia de defesa
Obviamente, é indicado que a pessoa não reaja a
nenhum assalto. Mas após o fato, já em local seguro, a pessoa pode mentalmente
fazer o que gostaria de ter feito. Ela pode imaginar-se empurrando o
assaltante, imaginar-se correndo, entre outras inúmeras possibilidades, que
desejar longe dele. Ao completar essa estratégia de defesa com a imaginação, a
pessoa pode obter o alívio mais rapidamente.
Buscar apoio para crianças
Se a criança ficar agitada, correndo de um lado
para o outro, chorando, gritando, por exemplo, deixe-a livre para completar a
sua estratégia de defesa. Cabe ajudá-la a transformar o que houve de forma
lúdica, sem nenhuma repreensão do que ela falar ou se expressar, sem nenhum
juízo de valor. É recomendável pedir para ela desenhar livremente o que quiser,
ou fazer um jogo teatral, sempre brincando e transmitindo para ela que já estão
seguros. O apoio dos pais ou responsáveis é essencial para a criança conseguir
elaborar o fato com mais facilidade. É importante acompanhar as reações da
criança também no dia seguinte e, se necessário, buscar ajuda
Nenhum comentário:
Postar um comentário