1 OUTRO OLHAR

Seja bem vindo ao meu espaço democrático onde não há censura, aqui não quero criar ideologias e nem doutrinas de vida e sim, expressar a minha opinião sobre aquilo que me causa inquietação. Pode ser que o meu OUTRO OLHAR não esteja na mesma direção do seu, isso não me incomoda, pelo contrário prova que cada um é pautado nas suas experiências e têm sua forma de pensar e analisar.

domingo, 31 de julho de 2011



Há um tempo fazendo trabalho acadêmico sobre publicidade e lendo outros artigos, sobre campanhas publicitárias nos quais pautei este, me deparei com uma realidade gritante e perigosa que existe no conteúdo das mensagens das empresas, quando se dirigem aos seus públicos, entre eles os consumidores. Exemplo: um comercial de televisão, veiculado em São Paulo, promove a venda de um automóvel, em condições comerciais “imbatíveis”. No filme marido e mulher dialogam sobre a necessidade da compra de um carro novo. Segundo a mulher, o carro do casal está em boas condições de uso. Diante do argumento, o homem se levanta, sai, destrói seu carro e remove o obstáculo e a razoabilidade do argumento da mulher. No mesmo período viram-se na telinha outros comerciais de automóveis que induzem ou sugerem um comportamento irresponsável e criminoso no trânsito. O carro vira uma arma quando os personagens da ficção publicitária dirigem em cidades e espaço em que não há pessoas, outros carros e obstáculos.

Todo o poder para as máquinas, que estão ao alcance de seus cartões de créditos e salários, é o que esses anúncios promocionais repetem sem parar. Parte das empresas automobilísticas e os seus publicitários parecem não viver neste mundo. Posicionam-se desconhecedores, alheios, insensíveis às discussões sobre sustentabilidade, que traz em seu cerne os aspectos econômico, social e ambiental. Ora, nunca se falou tanto em consumo responsável, redução, de desperdícios, principalmente no ambiente de cidades invadidas pela violência e pelo desrespeito ao outro. Mesmo assim, os anúncios, principalmente de televisão, vão à contramão, incentivam a destruição de bens e da natureza. Isso alimenta idéias medievais, vozes que defendem o controle do Estado, sobre o conteúdo dos meios comunicação. Enfraquece a boa e comprovada prática da auto-regulação.

Um contra-exemplo que mostra uma publicidade que vai além de estimular só a venda de carro: a Fiat, em 2006, veiculou uma belíssima campanha de publicidade institucional, destinada a comemorar os seus 30 anos no Brasil, cujo slogan principal era “A Fiat convida você a pensar no futuro”. O convite era transcendente e levava as pessoas a pensar nas cidades do futuro, no futuro do planeta, inclusive no carro do futuro. Entidades como o Conselho de Auto Regulamento Publicitária (Conar) deveriam promover uma discussão interna sobre as disfunções publicitárias, como as citadas, antes que assunto caia nas mãos do legislador e do burocrata inquisitoriais, portadores de inaceitáveis tesouras de censura. Existem outros casos de comerciais de automóveis, na mesma direção ofensiva. Alguns trazem um selo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA), uma chancela oficial que não justifica, minimiza, nem legitima cenas do carro em alta velocidade em praia deserta, no campo, escalando pedra imemorial. Esquece-se do básico: a exemplaridade, o impacto que produzem no ambiente e no comportamento das pessoas. Os comerciais de automóveis têm transitado entre os argumentos técnicos agressão à civilidade e sensibilidade.

Precisamos entender que em tempo de congestionamentos gigantescos em boa parte das cidades brasileiras, (assim como em São Luis) de aquecimento global, de responsabilidade, coerência e transparência, é hora de as montadoras sugerirem “dirija com moderação”.

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