Em
um país onde a luta contra a discriminação de negros e mulheres se intensificou nas últimas três décadas o novo
governo apresenta um retrocesso. Michel Temer é o primeiro Chefe de
Estado desde Ernesto Geisel, que governou entre 1974 e 1979, a ter um Governo
sem mulheres. Esta realidade acontece num país com mais de 50 por cento de
negros e de mulheres.
Desde que a primeira mulher assumiu o comando de uma
pasta do primeiro escalão, a ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz,
do governo de João Figueiredo (1979-1985), todos os presidentes sempre tiveram
colaboração feminina em algum momento. Sarney contou com apenas uma ministra;
Collor e Itamar, duas, cada um; já Fernando Henrique Cardoso, ao longo de seus
dois mandatos, teve quatro ministras; Lula, também em oito anos, reuniu dez
mulheres na equipe. Já Dilma Rousseff, quando assumiu seu primeiro mandato,
empossou outras dez mulheres. Sem contar ministras interinas, 14 mulheres
ocuparam os gabinetes da administração de Dilma.
Michel chamou apenas Ellen
Gracie, ex-ministra do Supremo Tribunal Federal, para assumir a
Controladoria-Geral da União, mas ela recusou o convite. E ainda chegou a
negociar as participações das deputadas Mara Gabrilli e Renata Abreu, ambas
para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, mas sem sucesso, como não
obteve sucesso, o universo de mulheres inteligentes, ousadas e determinadas que
a nossa politica têm acabou na visão do presidente interino. Isso representa
uma miopia em pais que têm na população brasileira um número expressivo de mulheres que poderiam
ocupar ministérios em todas as áreas.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, tentou justificar a ausência de mulheres
dizendo que o ministério do presidente interino não tem mulheres em sua
composição porque os partidos não as indicaram. E os negros qual é a desculpa?
Não existe nesse Brasil negros
capacitados e até mesmo aliados partidários para está no primeiro escalão? Justamente
num pais onde mais de 50% da população é negra?
Michel, politico, advogado, professor universitário e escritor brasileiro e atual presidente interino. Foi presidente da Câmara dos Deputados, secretário da Segurança Pública e Procurador-Geral do Estado de São Paulo. Com tantas
atribuições e participando da história democrática do pais, não compreendeu que a presença de negros e
mulheres ao longo dos últimos 30 anos, foi um processo de conquista da
sociedade. Não foi um partido que construiu esse processo, foi uma luta
histórica das mulheres e dos negros por seus direitos.
Esse novo cenário deixa um duvida: nesse governo haverá de fato à continuidade das políticas afirmativas e de inclusão que tivemos nos últimos anos?